A decisão de encerrar o uso de dinheiro como forma de pagamento para o transporte coletivo em Florianópolis marca uma mudança profunda no sistema de mobilidade da capital catarinense. A partir da implementação da nova regra, passageiros devem se adaptar a métodos de pagamento digital ou eletrônico, o que altera a forma como muitos estão habituados a lidar com o transporte do dia a dia. Essa transição, vista pela administração como necessária para modernização e controle, representa uma ruptura com práticas antigas, exigindo atenção do público e das autoridades. A alteração no modo de pagamento tende a impactar a rotina de quem depende de ônibus regularmente seja para trabalhar, estudar ou deslocar-se pela cidade. O desafio não é apenas técnico, mas social, pois mobiliza diferentes perfis de usuários — desde jovens com acesso a tecnologia até pessoas idosas ou em situação vulnerável.
Para muitas famílias e pessoas de baixa renda a mudança gera apreensão. Nem todos têm facilidade de acesso a smartphones, internet ou meios digitais de pagamento, o que pode dificultar a adaptação à nova regra. A eliminação da opção de pagamento em dinheiro pode representar uma barreira para quem não possui conta bancária ou cartão, ou para quem não domina tecnologias mais recentes. Esse tipo de medida exige políticas de inclusão e alternativas acessíveis para garantir que ninguém fique excluído do transporte público. A adaptação precisa ser pensada com sensibilidade social para prevenir que o direito de locomoção seja restringido involuntariamente a quem já vive com limitações. As autoridades devem assegurar que a transição seja justa e legitimada por uma comunicação clara e ampla.
A racionalidade por trás da mudança aponta para modernização do sistema, agilidade nas embarcações, menor risco de fraudes e maior controle sobre arrecadação. Com o novo formato de pagamento, espera-se que o sistema se torne mais organizado, transparente e eficiente. A adoção de bilhetagem eletrônica ou digital facilita a contabilização de passageiros e contribui com a gestão do transporte público. A modernização também pode trazer benefícios como integração entre linhas e tarifas diferenciadas para distintas categorias de usuários. Para o município, essa atualização tecnológica pode significar menos custos operacionais a longo prazo e mais previsibilidade no planejamento do serviço. A ideia é transformar a experiência de uso do transporte, tornando-a mais alinhada às demandas contemporâneas por digitalização e agilidade.
No entanto, a transição suscita questionamentos sobre justiça social e acessibilidade. A exclusão do pagamento em dinheiro necessariamente exige que sejam criadas formas alternativas que funcionem para todos. Sem isso, existe o risco de que parte da população fique à margem do transporte público, comprometendo o direito de ir e vir. Autoridades responsáveis e operadores do sistema precisam garantir que métodos digitais sejam simples, estáveis e acessíveis. Deve haver suporte para pessoas com dificuldades de acesso à tecnologia, inclusive com opções de compra antecipada de créditos, bilhetes físicos alternativos ou pontos de recarga em locais acessíveis. A mudança eficaz depende de empatia e planejamento para contemplar necessidades diversas de mobilidade da população.
A reação da comunidade e dos usuários reflete incertezas e inseguranças diante da novidade. Muitos se questionam sobre como será o processo de embarque, se haverá atendimento presencial para contingências ou como ficará o uso por idosos, pessoas com deficiência, quem não tem celular ou conta bancária. A preocupação com a vulnerabilidade social, com desigualdades digitais e com o impacto prático da mudança é real. O debate tende a ser intenso enquanto as autoridades explicam os motivos e os benefícios esperados da medida. A transparência e o diálogo com a comunidade são fundamentais para reduzir resistências e evitar que a mudança gere danos àquelas pessoas que mais dependem do transporte coletivo. A confiança no sistema depende também de quão bem estruturado será o suporte às pessoas com dificuldades.
Para o sistema urbano de Florianópolis a adoção de pagamento digital pode abrir caminho para transformações maiores no transporte: integração eficaz entre diferentes linhas, bilhetagem eletrônica eficaz, monitoramento mais preciso de demanda e oferta e potencial expansão do serviço com melhor controle. A transição abre possibilidades de modernização ampla, com melhoria na gestão e na manutenção da frota, planejamento urbano mais alinhado e uso de dados reais para decisões. Essa reformulação pode representar um salto significativo na mobilidade da cidade, desde que a implementação seja bem executada e acompanhada por medidas de inclusão. A longo prazo, o transporte coletivo pode se tornar mais confiável, sustentável e acessível, beneficiando quem depende dele diariamente.
Mas é imprescindível que a mudança seja acompanhada de iniciativas de cidadania e equidade. Quem governa o sistema precisa reconhecer que nem todos os usuários estão no mesmo nível de acesso a tecnologia e recursos. A modernização precisa coexistir com a justiça social. Isso significa criar mecanismos de suporte, incluir a população vulnerável nos processos e garantir que o direito ao transporte não seja condicionado por recursos financeiros ou tecnológicos. A implementação deve ser gradual, com comunicação clara, prazos razoáveis, apoio comunitário e alternativas inclusivas. Caso contrário, a medida pode gerar exclusão e desigualdade.
O momento de transição exige responsabilidade coletiva: autoridades, gestores do transporte, comunidade e usuários devem trabalhar juntos para que a mudança funcione de fato para todos. A adaptação requer paciência, sensibilidade e planejamento. Se pensada com empatia e compromisso social, a reformulação do sistema de transporte de Florianópolis pode representar um avanço real, modernizando a mobilidade sem deixar ninguém para trás. A verdadeira medida de sucesso será a garantia de acesso digno, seguro e inclusivo ao transporte público para toda a população.
Autor: Richard Ghanem
