De acordo com o médico Gustavo Khattar de Godoy, a saúde mental é um componente essencial da saúde integral, e sua relação com a medicina vai muito além das especialidades de psiquiatria e psicologia. Em todas as áreas médicas, fatores emocionais e psicológicos influenciam diretamente o diagnóstico, a adesão ao tratamento e os desfechos clínicos.
Um paciente com depressão, por exemplo, pode ter mais dificuldade em seguir um plano terapêutico; já o estresse crônico pode agravar quadros como hipertensão ou doenças autoimunes. A medicina moderna, portanto, precisa reconhecer a saúde mental como um pilar do cuidado, integrando-a à rotina de avaliação e manejo clínico. Ignorar esse aspecto é comprometer a efetividade do tratamento e o bem-estar do paciente.
Qual é o papel do médico no cuidado com a saúde mental dos pacientes?
Mesmo que não sejam especialistas em psiquiatria, todos os médicos têm responsabilidade na identificação e manejo inicial de questões relacionadas à saúde mental. Durante consultas, sinais como alterações de sono, apetite, humor ou concentração devem ser levados a sério. A escuta ativa, a empatia e o acolhimento são ferramentas clínicas poderosas para abrir espaço para essas discussões.

Além disso, segundo o doutor Gustavo Khattar de Godoy, médicos de outras especialidades devem estar preparados para encaminhar o paciente ao profissional adequado, quando necessário, e acompanhar sua evolução. O cuidado interdisciplinar é essencial, e o médico funciona como um ponto de conexão entre diferentes áreas da saúde, promovendo um atendimento mais completo e humano.
Como a medicina pode incorporar práticas de promoção de saúde mental?
Para incorporar a promoção da saúde mental à prática médica, é necessário ir além do diagnóstico e do tratamento de transtornos. Para o Dr. Gustavo Khattar de Godoy, é preciso criar uma cultura de prevenção e bem-estar que se reflita nos protocolos, na formação dos profissionais e nas relações dentro das instituições.
Isso pode incluir a adoção de triagens psicológicas em atendimentos de rotina, capacitação em saúde mental para profissionais da atenção primária, criação de espaços de escuta e apoio emocional em hospitais, e integração entre as equipes de saúde mental e demais especialidades. A medicina precisa entender que cuidar da mente é parte integrante do cuidar do corpo — e que isso começa desde o primeiro contato com o paciente.
Como o estigma em torno da saúde mental afeta os cuidados médicos?
O estigma ainda é um dos maiores obstáculos para o tratamento adequado de questões mentais, tanto entre pacientes quanto entre profissionais da saúde. Muitos ainda associam transtornos mentais a fraqueza, falta de força de vontade ou comportamento antissocial. Esse preconceito leva ao silêncio, ao diagnóstico tardio e à recusa de tratamentos eficazes. Na medicina, esse tabu também dificulta que os próprios médicos e enfermeiros reconheçam quando estão em sofrimento.
No entanto, o médico Gustavo Khattar de Godoy explica que a pandemia de COVID-19 foi um divisor de águas na percepção coletiva sobre saúde mental. O isolamento social, o luto, o medo da contaminação e a sobrecarga dos sistemas de saúde trouxeram à tona uma crise emocional global. Tanto pacientes quanto profissionais de saúde enfrentaram desafios psicológicos intensos, revelando a fragilidade da estrutura de cuidado mental em muitos países.
Por fim, o futuro da medicina aponta para uma abordagem cada vez mais integrada, humanizada e interdisciplinar. O doutor Gustavo Khattar de Godoy frisa que a saúde mental deixará de ser uma “área à parte” e passará a ser reconhecida como essencial em todas as especialidades, desde a medicina de família até a oncologia e a cardiologia. Tecnologias como inteligência artificial e wearables já estão sendo usadas para monitorar indicadores de estresse e humor, e devem se tornar ferramentas comuns na prática clínica.
Autor: Richard Ghanem